segunda-feira, 22 de setembro de 2008

PF não consegue decifrar criptografia dos arquivos de Daniel Dantas

Olha a importancia de se ter um bom gestor de Segurança em TI. Eu acho impossível a empresa fabricante desses equipamentos disponibilizarem para a PF fornecer as chaves eletrônicas que abrem os arquivos.

Criptografado, conteúdo de computadores apreendidos no apartamento do banqueiro no Rio não é acessado pela perícia

Envolvidos na investigação estudam pedir ajuda para a empresa americana que criou o código de segurança para proteger os arquivos


Dois meses e meio depois, um dos principais materiais apreendidos pela Polícia Federal no dia em que a Operação Satiagraha foi deflagrada -cinco discos rígidos que estavam no apartamento do banqueiro Daniel Dantas, no Rio- permanece um enigma para os investigadores. Os HDs são protegidos por uma senha que a polícia não havia conseguido, até a última sexta-feira, desvendar.

Numa análise inicial, peritos da Polícia Federal disseram que precisariam de um ano para quebrar os códigos. Um dos peritos disse que nunca havia visto um sistema de proteção tão sofisticado no Brasil.

O delegado Protógenes Queiroz, que coordenou a Satiagraha, diz que os HDs "guardam segredos da República".

Na época da operação, a PF ventilou que 16 HDs haviam sido apreendidos numa "parede falsa" na casa de Dantas, um apartamento na avenida Vieira Souto, em Ipanema, na zona sul do Rio. Um investigador que participou do cumprimento da ordem judicial de busca e apreensão no apartamento confirmou que são cinco os HDs. São unidades externas de memória. Estavam dentro de um armário com porta de correr, num corredor que dá acesso ao quarto da mulher de Dantas. Estavam guardados numa sacola plástica.

Quando tentaram abrir os arquivos dos HDs, na superintendência da PF de São Paulo, os peritos descobriram que o acesso era criptografado. Isso significa que quem criou os arquivos inseridos nos HDs usou uma chave secreta para protegê-los. É como uma senha eletrônica. Sem ela, os arquivos, quando abertos, aparecem embaralhados e incompreensíveis na tela do computador.

O impasse levou os investigadores da PF a estudar uma alternativa jurídica para o rompimento do sigilo. Em conjunto com o juiz federal Fausto De Sanctis, informado há mais de um mês sobre os problemas nos HDs, os policiais discutem a possibilidade de obrigar, por ordem judicial, a empresa norte-americana que criou o software a fornecer as chaves eletrônicas que abrem os arquivos. É também aguardada a chegada de um grupo de peritos da PF de Brasília.

Não é a primeira vez que investigadores da Operação Satiagraha se vêem às voltas com dados criptografados do banco Opportunity, de Dantas. Em 28 de junho de 2006, os procuradores da República Rodrigo de Grandis e Ana Carolina Alves Araújo Roman informaram à 2ª Vara Federal de São Paulo que "muitos dos arquivos (mensagens de e-mail e anotações)" que integravam o disco rígido do banco estavam protegidos por senhas sigilosas, "o que torna impossível o seu acesso".

Origem
Dados do HD do banco, que fora apreendido em 2004 pela Operação Chacal, da PF, foram analisados e utilizados com ordem judicial na Satiagraha, que nasceu com o objetivo de averiguar a possível participação das empresas do grupo Opportunity no financiamento do mensalão. O HD foi copiado por ordem da Justiça Federal de São Paulo. O ato da cópia, feita por peritos da PF, foi acompanhado por representantes do Ministério Público Federal e um advogado do Opportunity.
Em 2004, os procuradores pediram à Justiça que oficiasse a IBM, detentora do software usado na criptografia, que apresentasse dois técnicos "habilitados a trabalhar com o programa Lotus Notes e com sistema de criptografia".

A Folha apurou que a PF, por meio de peritos do INC (Instituto Nacional de Criminalística) de Brasília, conseguiu depois quebrar esses códigos. O INC informou aos procuradores que tinha condições de romper o sigilo dos arquivos, que foram enviadas a Brasília. Foram desses discos que saíram o que a PF julga serem os principais indícios de que o Opportunity cometeu uma série de fraudes financeiras.
Os discos não foram os únicos aparelhos que Dantas protegia com códigos. Ele usava celulares criptografados, os quais o banqueiro chamava de "pretinhos". Quando precisava ter conversa reservada, ele pedia ao interlocutor para falar no "pretinho". Para gravar essas conversas, os investigadores tiveram de romper a codificação usada por executivos do Opportunity em seus celulares.

No depoimento de seis horas que prestou à CPI dos Grampos, em 13 de agosto, Dantas não foi questionado sobre o conteúdo dos HDs por nenhum parlamentar. Limitou-se a responder uma pergunta genérica do presidente da comissão, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), se tinha ou não uma "parede falsa" no seu apartamento. "Eu tenho um armário no meu apartamento, com portas de correr. São várias. Eu não tenho nenhuma parede falsa."

Fonte: Folha Online

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